18 de fevereiro de 2011

Tucupi

Tucupi é o tal do caldo usado no tacacá.

De origem indígena inegável, o tucupi é feito com a mandioca brava. Se bem entendi, a mandioca brava é ralada, e seu caldo é separado e cozido por bastante tempo. O longo cozimento não se presta apenas para apurar o sabor do caldo amarelado, mas principalmente para que ele deixe de ser venenoso.


Base do tacacá, o tucupi é também o molho que se serve com pato e com mais uma infinidade de outras carnes, peixes e até mesmo com frango. Nem todas as combinações ficam boas, na minha modesta opinião, mas o toque ligeiramente ácido do tucupi é uma delícia. Além disso, ele possui a característica de ser marcante e, ao mesmo tempo, leve. Isso porque seu sabor é inigualável (sem rivais mesmo entre os melhores caldos de legumes) e não tem gordura, o que facilita sua digestão.


Nos mercados de Belém tem tucupi (orgânico inclusive) pra vender, em garrafas pet como de refrigerante. Agora que já se passou um mês desde que estivemos em terras paraenses, estou arrependida de não ter trazido um litrinho de tucupi na bagagem, junto com... hum, isso é assunto pra mais tarde!

4 de fevereiro de 2011

Tacacá

Obviamente a primeira referência culinária à cidade de Belém tinha de ser o tacacá. Dizem uma porção de coisas sobre esse caldo, algumas das quais podem ser conferidas na Internet. Ingredientes, modo de preparo, forma de servir e de comer... vá lá, deixe a preguiça de lado, não espere a informação mastigada em sua boca e vá atrás do que quer saber. Principalmente porque quanto a esses dados "oficialescos" eu pouco teria a acrescentar, porque não vi fazer o tacacá, não fiz o tacacá, tampouco colhi ou preparei qualquer ingrediente usado no tacacá.

Ah... mas eu tomei tacacá! (Primeira lição, tacacá é de tomar, não é de comer!) Quase todos os dias em que estive em Belém. Será que gostei? Vejamos...

Tem tacacá pra vender em barraquinhas na calçada. As tacacazeiras ficam com uns panelões sobre o fogo e servem o caldo acompanhado de camarão seco em cumbucas de cabaça, protegidas por cestinhos de palha muito bonitinhos. O tacacá faz sucesso de tarde, e na Av. Nazaré, onde tomamos nosso primeiro tacacá, tinha algumas barraquinhas e mais um punhado de gente se alimentando.

A primeira impressão é um baque. Naquele calor infernal de Belém sorver um caldo quente, condimentado e ainda cheio de folhas de jambu... é um baque. Eu levei certa vantagem, como japa desterrada, já estou acostumada a tomar caldos quentes (pratos tipicamente de inverno) em pleno verão brasileiro. Mas a temperatura do caldo, por si só, já foi um obstáculo para o meu cabeçudinho.

E então vieram os sabores. E que sabores. A folha de jambu amortece a língua e faz os lábios tremerem - é afrodisíaca, dizem os paraenses. Acredito mesmo que seja, porque no tacacá especificamente faz surgir uma grande quentura por dentro. Uma quentura que pode parecer incômoda de início, mas passado o baque dos sabores e da mordacidade, torna-se revigorante.

Como disse, eu particularmente gostei do tacacá desde a primeira prova, na barraquinha da Av. Nazaré. Meu cabeçudinho, por seu paladar mais apurado e grau de exigência mais elevado, precisou de preparos mais refinados para se convencer. Experimentamos tacacá de restaurante chique e de bufê de autosserviço, ocasiões em que percebemos que o caldo que serve de base ao tacacá pode ser mais ou menos apurado, mais ou menos condimentado, mais ou menos profundo. Parece óbvio, e é, mas conforme o esmero e precisão no preparo, o caldo perde em força, mas ganha muito sabor.

E então, depois de tantas provas e prosas, ficou fácil criar uma opinião a respeito do famoso caldo. Tacacá é muito bom!

PS: Como bem lembrou meu cabeçudinho, os botões de jambu são particularmente interessantes. Toda vez que mordemos um botãozinho, a impressão que temos é de que a flor vai se abrir dentro da boca, tal a mordacidade com que a plantinha se espalha pela língua!

3 de fevereiro de 2011

Viagem gastronômica ou viagem na maionese?

Meu cabeçudinho é especialista em números, gosta especialmente de proporções e medições de chances. Coisa de quem trabalha com SPSS, Software Para Quem Sabe Somar. (Aqueles que, como eu, precisam de maquininha no supermercado pra saber qual embalagem de cerveja vale mais a pena não devem se aventurar por esses programas, sob pena de fazer bobagem mesmo nas listagens de frequências e médias...) Pois bem, se fosse ele a redigir este despretensioso relato, provavelmente diria que cerca de 90% das pessoas reagem com estranheza quando contamos que fomos a Belém do Pará. A passeio (e aí a proporção de caras franzidas aumenta um pouco mais).

A primeira pergunta que nos faziam (e nos fazem) é se temos algum parente no Norte do país. Afinal, que outro motivo justificaria nosso deslocamento do SE a terras tão longínquas? E a destino tão pouco badalado, quando confrontado com praias maravilhosas do Nordeste, do Sul ou mesmo do Sudeste, ou ainda com as cataratas do Iguaçu, com os parques curitibanos, com as águas de Bonito, com a arquitetura histórica mineira... que raios fomos nós fazer em Belém do Pará?

Oras, que coisa fácil de resopnder.

Fomos a Belém pra fazer aquilo que fazemos todos os dias e de que muito gostamos.

Fomos a Belém pra comer!

E como comemos. Desde a chegada, a busca por comida boa foi intensa e felizmente compensadora - felizmente mesmo, porque as primeiras investidas em busca de comida foram árduas... Assim, ó: saímos cedo de casa (em SP), tivemos problemas pra devolver o carro no aeroporto, entramos na área de embarque em cima da hora, o voo atrasou, a Gol nos serviu um minipacote de amendoim (e ainda queria que consumíssemos e pagássemos muito caro por um lanche minúsculo e murcho, ao que resistimos bravamente, em especial porque não tínhamos um real na carteira, dado que não sobrara tempo para passar num caixa eletrônico), chegamos a Belém de tarde (horário de verão não tem em todo o país), baita bafo, calor úmido, coisa estranha, estômago colado nas costas... e o Ver-o-Peso, que tanto meu cabeçucinho queria conhecer, ferve mesmo logo cedo, de modo que à tarde só ficam as moscas a passear e o povo a tomar cerveja nos camelôs azulejados, nada de tacacá, nem de peixe, muito menos de camarão.

Então, depois de um banho merecido, lá fomos nós atrás do badalado Lá Em Casa, na cidade, que meu tio indicara como a melhor opção. Debaixo de chuva. Muita chuva. E ainda assim, quente. Muito quente. O clima por lá é do tipo equatorial, e se bem me lembro das aulas de geografia, isso significa umidade alta e temperatura elevada.

Pois bem. Caminhamos pelas ruas escuras e desconhecidas, debaixo de chuva, mas sem uma proteção que fosse, atrás do dito estabelecimento. E depois de ir e vir algumas vezes, descobrimos, graças ao segurança do teatro, que o Lá em Casa da cidade fechou! No dia seguinte fomos apresentados à Estação das Docas, onde agora funciona a única unidade do restaurante. Mas essa história fica pra depois. Nossa viagem teve vários capítulos em busca de comida, e se algumas pessoas a consideraram uma verdadeira viagem na maionese, para a turma de cabeçudos aqui foi uma Viagem Gastronômica autenticamente brasileira!

2 de fevereiro de 2011

Belém-Belém-Belém

Minha cabeça apronta muitas "confusões linguísticas" comigo desde criança. Às vezes acho que é problema de audição, outras tantas percebo que não, o problema não é na recepção do que chega aos ouvidos, mas na interpretação dessas informações. A bem da verdade, a origem da confusão pouco importa, importa mesmo é a diversão proporcionada para mim mesma... sim, eu me divirto com as minhas próprias confusões.

Quem tem mais ou menos a mesma idade que eu (ou mais!) deve se lembrar de uma novela global chamada Brega & Chique. Não façam as contas, mas eu tinha dez anos nessa época... Pois bem, a abertura dessa novela contava com a divertida trilha da banda Ultraje a Rigor, "Pelado". Por que estou contando tudo isso? Porque foi a partir dessa música que eu me toquei de que tinha algo errado na minha cabeça.

Foi assim: na abertura da novela, a certa altura, Roger canta "pelado, pelado, nu com a mão no bolso, nuzinho pelado, nu com a mão no bolso" e um homem aparece, obviamente nu, caminhando "com a mão no bolso". E qual o problema? Bem, sabe-se lá por quê, meus neurônios sempre se recusaram a ligar a imagem do homem pelado com a letra da música, de modo que por muito tempo eu cantei a plenos pulmões "pelado, pleado, ú com a mão no bolso, URSINHO pelado, ú com a mão no bolso".

Eu sei, é degradante confessar uma coisa dessas. "Ú com a mão no bolso"? Isso é culpa de um livro queridíssimo, que guardo até hoje, chamado "Pipoca", em que um burrinho passeia pelas páginas do livro, por onde encontra letras e números antropomórficos - ou quase isso, com olhos, boca, nariz, braços e mãos. Daí a imaginar um "Ú com a mão no bolso" foi muito fácil. Já quanto ao "ursinho pelado"... oras, e uma criança de dez anos vai lá entender das taras de mulheres mais velhas?

Confusões como essa me perseguem até hoje. Felizmente ou não, agora tenho relativa consciência das peças que os meus neurônios me pregam. E então sempre me dou um tempo para pensar melhor naquilo que vi ou ouvi antes de fazer qualquer tipo de comentário.

Foi numa ponderação dessa que descobri (aleluia!) que "Belém-belém-belém nunca mais tô de bem" não foi criado pela inimiga declarada da "Fafá de Belém", que por sua vez é de "Belém do Pará", cidade do Norte do Brasil, que "por acaso" não é o berço de um certo agitador político chamado Jesus. Esta última parte, arre, deu trabalho para eu esclarecer, e a confusão entre Pará, Cisjordânia, Fafá e Jesus durou... hum... algum tempo da minha vida, digamos assim.

E eis que chegou a hora de rever toda essa história! Em janeiro, eu e meu cabeçudinho passamos uns dias "na Belém", como gosta de falar meu pequerrucho cabeçudão. Na Belém da Fafá, ou seja, na Belém do Pará! Coletamos algumas histórias ao longo desses dias, que eu pretendo contar por aqui. E vamos lá, se sobrar energia conto ainda histórias de santos e do Santos, de viagens e viajem...