Obviamente a primeira referência culinária à cidade de Belém tinha de ser o tacacá. Dizem uma porção de coisas sobre esse caldo, algumas das quais podem ser conferidas na Internet. Ingredientes, modo de preparo, forma de servir e de comer... vá lá, deixe a preguiça de lado, não espere a informação mastigada em sua boca e vá atrás do que quer saber. Principalmente porque quanto a esses dados "oficialescos" eu pouco teria a acrescentar, porque não vi fazer o tacacá, não fiz o tacacá, tampouco colhi ou preparei qualquer ingrediente usado no tacacá.
Ah... mas eu tomei tacacá! (Primeira lição, tacacá é de tomar, não é de comer!) Quase todos os dias em que estive em Belém. Será que gostei? Vejamos...
Tem tacacá pra vender em barraquinhas na calçada. As tacacazeiras ficam com uns panelões sobre o fogo e servem o caldo acompanhado de camarão seco em cumbucas de cabaça, protegidas por cestinhos de palha muito bonitinhos. O tacacá faz sucesso de tarde, e na Av. Nazaré, onde tomamos nosso primeiro tacacá, tinha algumas barraquinhas e mais um punhado de gente se alimentando.
A primeira impressão é um baque. Naquele calor infernal de Belém sorver um caldo quente, condimentado e ainda cheio de folhas de jambu... é um baque. Eu levei certa vantagem, como japa desterrada, já estou acostumada a tomar caldos quentes (pratos tipicamente de inverno) em pleno verão brasileiro. Mas a temperatura do caldo, por si só, já foi um obstáculo para o meu cabeçudinho.
E então vieram os sabores. E que sabores. A folha de jambu amortece a língua e faz os lábios tremerem - é afrodisíaca, dizem os paraenses. Acredito mesmo que seja, porque no tacacá especificamente faz surgir uma grande quentura por dentro. Uma quentura que pode parecer incômoda de início, mas passado o baque dos sabores e da mordacidade, torna-se revigorante.
Como disse, eu particularmente gostei do tacacá desde a primeira prova, na barraquinha da Av. Nazaré. Meu cabeçudinho, por seu paladar mais apurado e grau de exigência mais elevado, precisou de preparos mais refinados para se convencer. Experimentamos tacacá de restaurante chique e de bufê de autosserviço, ocasiões em que percebemos que o caldo que serve de base ao tacacá pode ser mais ou menos apurado, mais ou menos condimentado, mais ou menos profundo. Parece óbvio, e é, mas conforme o esmero e precisão no preparo, o caldo perde em força, mas ganha muito sabor.
E então, depois de tantas provas e prosas, ficou fácil criar uma opinião a respeito do famoso caldo. Tacacá é muito bom!
PS: Como bem lembrou meu cabeçudinho, os botões de jambu são particularmente interessantes. Toda vez que mordemos um botãozinho, a impressão que temos é de que a flor vai se abrir dentro da boca, tal a mordacidade com que a plantinha se espalha pela língua!
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