22 de março de 2011

Turismo em Belém

Fazer turismo em Belém requer alguns cuidados e um tiquinho de sagacidade.

Os moradores da cidade com que tivemos contato insitiram em nos alertar sobre os perigos da noite e das ruas escuras. De fato, as ruas de Belém são muito mal iluminadas e, em geral, ficam desertas assim que o sol se põe. Isso não quer dizer, contudo, que as ruas sejam, por regra, perigosas. Pelo menos não no sentido que tentaram nos incutir. "Cuidado com a bolsa", "não saiam com muito dinheiro", "não andem a pé", "atenção na praça", foram alguns dos conselhos que recebemos.

Pois contrariamos os cidadãos da capital paraense nesse sentido e batemos muita perna pela cidade, tanto de dia como à noite. E então formamos nossa própria opinião, fundamentada no que vimos lá e no que vemos aqui, no centro de SP.

Andar em Belém requer, sim, muito cuidado. Cuidado nas calçadas, que em geral são estreitas e estão em péssimo estado. Cuidado também na sarjeta, que é absurdamente larga e funda. Dizem que as calçadas são ruins e as sarjetas, profundas, por causa das águas das chuvas. Ok, o aguaceiro que desaba sobre a cidade todos os dias realmente necessita de um escoadouro, ou as ruas ficariam inundadas diariamente. Mas há inúmeras soluções melhores do que simplesmente abrir valas de mais de um metro entre a rua e a guia, ora pois! Inúmeras vezes precisei da ajuda do meu cabeçudinho para saltar da calçada para o asfalto, outras tantas acabei enfiando o pé na sarjeta - invariavelmente melequenta -, e outras tantas ainda tive de pôr à prova minhas habilidades de Maurren Maggi. Tudo bem que tenho pouco mais de metro e meio de altura, mas e as crianças da cidade, como fazem?


Como se não bastassem as calçadas mal conservadas e as sarjetas profundas, em geral o passeio é estreito e abriga postes, lixo ou mesmo camelôs. E nas ruas - muitas delas estreitas - há, ainda, carros estacionados - que não ficam muito rente à guia, justamente por causa da sarjeta. Enfim, com essa mistura fantástica, não resta muita coisa ao pedestre a não ser ficar esperto para não tocer o tornozelo, não enfiar o pé na lama nem ser atropelado.

Com esperteza a tiracolo, grande parte do perigo de andar em Belém está vencido. E as ruas, mesmo à noite, não são tão mal frequentadas como nos disseram - ao contrário, o problema é justamente o fato de as pessoas frequentarem muito pouco as ruas mais centrais da cidade. Nessas áreas, as pessoas transitam basicamente de carro particular e, pelo que notamos, mesmo que desejem ir até o restaurante da esquina. Isso não é exclusividade de Belém, mas uma moda muito chata de algumas cidades que conhecemos, São Paulo inclusive. Ainda assim, persistimos em nossa convicção de que a cidade, para ser viva, precisa ser usada e ocupada por seus moradores. Com boa iluminação e transeuntes contumazes, poucas ruas permanecem inseguras.

Assim, caminhamos por boa parte da cidade e ainda usamos alguns ônibus para ir do centro ao bairro, do bairro ao centro. Como no dia em que fomos ao mercado de São Brás, por exemplo. Cansada que estava de esfolar os pés no calçamento acidentado, pedi água ao meu cabeçudinho, e então usamos o transporte coletivo municipal. O mercado, aliás, é muito bonito por fora e um tanto decepcionante por dentro. Isso porque a parte externa foi reformada recentemente e, como outros pontos turísticos de Belém, carrega imponência. Internamente, porém, o mercado de São Brás assemelha-se a um reles camelódromo, inclusive com barraquinhas de CDs piratas. A única indicação de que não estávamos em SP era a banca de camarão seco!


O Forte do Presépio é outro ponto turístico de Belém. Também conhecido como Forte do Castelo, poderia ser chamado ainda de Forte Nada Pode. Porque lá nada pode ser feito mesmo. Passeamos no seu entorno e apreciamos a bela vista do rio. Mas não pudemos entrar no Forte porque era dia de limpeza. Meu cabeçudinho não pôde tirar a camiseta na área externa e aberta e pública e praticamente na rua, só porque estava perto do Forte e no Forte nada pode. Vimos ainda os guardas chamarem a atenção de um rapaz, porque ele se deitara no colo de sua namorada. Mais uma vez, no banco da praça na área externa e aberta e pública e quase na rua, mas não podia, porque estava perto do Forte e no Forte nada pode. Também não podia subir em muretas que convidavam a ver o rio e... Enfim, ficamos indignados com as regras ilógicas e partimos para outro lugar.

Para nossa infelicidade, era segunda-feira, dia de não-turismo em Belém. Por um desígnio de racionalidade duvidosa, todos os pontos turísticos da cidade ficam fechados nesse dia da semana. Ou seja, plena segunda-feira, você com dinheiro pra gastar e desejo de passear, e nada pra fazer na cidade, a não ser torcer o tornozelo na calçada ou fotografar tudo de longe, longe... se é que pode tirar foto!

16 de março de 2011

Nas docas


Eu tenho lá minha opinião a respeito da cidade de Belém e o que ela faz com e para os turistas que recebe. Mas é impossível não reconhecer um de seus grandes êxitos: a constituição da Estação das Docas.

No local há uma painel bastante interessante que conta a história do porto, sua decadência e posterior recuperação, até a inauguração do atual polo turístico, artístico e gastronômico da cidade.

Três galpões enormes constituem a Estação, que tem vista para o rio, de um lado, e rua histórica, de outro. Cada um dos galpões recebeu um nome temático: Boulevard das Artes, Boulevard da Gastronomia e Boulevard das Feiras e Eventos. Este último, pelo que pude entender, é locado para as mais diversas finalidades, como casamentos, formaturas e eventos empresariais. Em termos de originalidade, o espaço é inigualável.

Obviamente o boulevard que mais frequentamos foi o da gastronomia, onde se encontram alguns dos melhores restaurantes da cidade. Fizemos ótimas refeições na Estação das Docas e ainda tomamos o melhor chope de nossas vidas, se considerarmos nesse ranking o preço por ml.

 Ao fundo, construções de uma época em que Belém foi muito rica

No interior dos galpões, os paraenses disputam as mesas, numa obsessão terrível pelo ar condicionado. Felizmente eu e meu cabeçudinho não somos adeptos do clima polar - que além de ressecar as narinas, ainda resfria a comida em poucos minutos, eca! Então, na maioria das refeições sentamo-nos no lado de fora dos armazéns. Nas mesas externas, além de podermos apreciar nossas iguarias sem medo de que resfriassem demais, ainda podíamos curtir a vista do rio, que a cada momento mudava de cor e de penteado.

Sentados ao lado do rio, vimos navios enormes passarem, com seus tripulantes acenando de toda parte. Coisa de filme. Vimos também as embarcações turísticas saindo do pequeno cais, rumo a passeios pela orla de Belém - no pôr-do-sol ou logo ao anoitecer. Também nos divertimos com alguns pardais ousados, que vinham buscar alguma migalha saborosa entre as mesas. E, ainda, com música ao vivo! Instaladas em uma plataforma, as bandas tocavam estilos variados, deslizando sobre as mesas da Estação. Como se, literalmente, a música viesse dos ares.


Passear nas Docas logo se tornou meu programa padrão em Belém - deu fome? vamos para as Docas! deu sede? vamos para as Docas! deu tédio? vamos para as Docas! E até quando não deu nada, fomos para as Docas, comer, beber, tomar sorvete, fazer compras ou simplesmente olhar o rio!

Mesas vazias, sorte nossa: tivemos exclusividade no espetáculo do rio transmutante

4 de março de 2011

Lula não vem de Belém

Mas nós fomos a Belém e comemos lula, sim!

No primeiríssimo dia na cidade, fomos recebidos com chuva e calor. Passeamos um tanto desnorteados e - surpresa chata - descobrimos que o restaurante indicado pelo meu tio havia fechado. Sem muito o que fazer além de continuar buscando um lugar pra comer, caminhamos pelas ruas escuras do bairro, guiados um pouco pelo instinto (chamado fomeeeeeee!), um pouco pelo bom senso.

Chegamos então a uma rua de restaurantes bacanas. Instalados em casas enormes - e todas as construções pecam pelo excesso de grandez na capital paraense -, os comércios pareciam um tanto chiques por fora. Da rua, pouco se via de movimento, uma vez que a gente rica de lá é como a maioria da gente rica daqui: só sai de casa se for de carro.

Passamos por um pub que parecia animado, mas estava apinhado de homens, e mais homens, e mais homens! Não vi uma mulher sequer no ambiente e eu mesma "pedi pra sair". Saímos depressa, constrangidos, como se aquilo ali fosse uma casa de massagem ou coisa do gênero. Eu hein.

Prosseguimos na caminhada e passamos por um restaurante de cozinha contemporânea. Salão amplo, mesas enormes, ambiente bastante iluminado. E vazio. A cena se repetiu em outras casas, até que chegamos a um ristorante um tanto parecido com as cantinas do bairro paulistano do Bixiga. Sentimo-nos em casa, meu descendente de cearense e eu, a japa tipicamente paraguaia.

Mesmo sem querer, acertamos em cheio na escolha. A casa era mesmo uma cantina tradicional, com quadros curiosos que se relacionavam a futebol, várias quinquilharias espalhadas pelas paredes e o esperado trio vermelho, verde e branco na decoração.

Servimo-nos no buffet de antepastos, vendido a quilo, e foi então que o sorriso voltou aos nossos rostos. Berinjela, queijo, presunto cru... não lembro mais qual iguaria foi a minha favorita, mas estou certa de que valeu provar de tudo um pouco.

Em seguida chegou nosso pedido: risoto com tinta de lula!

Jamais havia comido esse prato, mas posso garantir que estava muito bom. O arroz estava numa textura ótima, e por incrível que pareça, o tom enegrecido da tinta da lula dá um toque muito apetitoso ao risoto.

Eu e meu cabeçudinho devoramos o risoto, e ainda sobrou um tanto no prato. Não é pra menos, o sabor é bem marcante - não é pra maricas!

Conforme percebemos mais tarde, a cantina era bastante movimentada, frequentada principalmente por pessoas endinheiradas da cidade. Turistas? Que nada, nós destoávamos completamente do restante dos comensais. De chinelo e bermuda, éramos os únicos a não trajar roupa de domingo. Tudo bem, era sexta-feira e lá fora chovia e fazia calor!

18 de fevereiro de 2011

Tucupi

Tucupi é o tal do caldo usado no tacacá.

De origem indígena inegável, o tucupi é feito com a mandioca brava. Se bem entendi, a mandioca brava é ralada, e seu caldo é separado e cozido por bastante tempo. O longo cozimento não se presta apenas para apurar o sabor do caldo amarelado, mas principalmente para que ele deixe de ser venenoso.


Base do tacacá, o tucupi é também o molho que se serve com pato e com mais uma infinidade de outras carnes, peixes e até mesmo com frango. Nem todas as combinações ficam boas, na minha modesta opinião, mas o toque ligeiramente ácido do tucupi é uma delícia. Além disso, ele possui a característica de ser marcante e, ao mesmo tempo, leve. Isso porque seu sabor é inigualável (sem rivais mesmo entre os melhores caldos de legumes) e não tem gordura, o que facilita sua digestão.


Nos mercados de Belém tem tucupi (orgânico inclusive) pra vender, em garrafas pet como de refrigerante. Agora que já se passou um mês desde que estivemos em terras paraenses, estou arrependida de não ter trazido um litrinho de tucupi na bagagem, junto com... hum, isso é assunto pra mais tarde!

4 de fevereiro de 2011

Tacacá

Obviamente a primeira referência culinária à cidade de Belém tinha de ser o tacacá. Dizem uma porção de coisas sobre esse caldo, algumas das quais podem ser conferidas na Internet. Ingredientes, modo de preparo, forma de servir e de comer... vá lá, deixe a preguiça de lado, não espere a informação mastigada em sua boca e vá atrás do que quer saber. Principalmente porque quanto a esses dados "oficialescos" eu pouco teria a acrescentar, porque não vi fazer o tacacá, não fiz o tacacá, tampouco colhi ou preparei qualquer ingrediente usado no tacacá.

Ah... mas eu tomei tacacá! (Primeira lição, tacacá é de tomar, não é de comer!) Quase todos os dias em que estive em Belém. Será que gostei? Vejamos...

Tem tacacá pra vender em barraquinhas na calçada. As tacacazeiras ficam com uns panelões sobre o fogo e servem o caldo acompanhado de camarão seco em cumbucas de cabaça, protegidas por cestinhos de palha muito bonitinhos. O tacacá faz sucesso de tarde, e na Av. Nazaré, onde tomamos nosso primeiro tacacá, tinha algumas barraquinhas e mais um punhado de gente se alimentando.

A primeira impressão é um baque. Naquele calor infernal de Belém sorver um caldo quente, condimentado e ainda cheio de folhas de jambu... é um baque. Eu levei certa vantagem, como japa desterrada, já estou acostumada a tomar caldos quentes (pratos tipicamente de inverno) em pleno verão brasileiro. Mas a temperatura do caldo, por si só, já foi um obstáculo para o meu cabeçudinho.

E então vieram os sabores. E que sabores. A folha de jambu amortece a língua e faz os lábios tremerem - é afrodisíaca, dizem os paraenses. Acredito mesmo que seja, porque no tacacá especificamente faz surgir uma grande quentura por dentro. Uma quentura que pode parecer incômoda de início, mas passado o baque dos sabores e da mordacidade, torna-se revigorante.

Como disse, eu particularmente gostei do tacacá desde a primeira prova, na barraquinha da Av. Nazaré. Meu cabeçudinho, por seu paladar mais apurado e grau de exigência mais elevado, precisou de preparos mais refinados para se convencer. Experimentamos tacacá de restaurante chique e de bufê de autosserviço, ocasiões em que percebemos que o caldo que serve de base ao tacacá pode ser mais ou menos apurado, mais ou menos condimentado, mais ou menos profundo. Parece óbvio, e é, mas conforme o esmero e precisão no preparo, o caldo perde em força, mas ganha muito sabor.

E então, depois de tantas provas e prosas, ficou fácil criar uma opinião a respeito do famoso caldo. Tacacá é muito bom!

PS: Como bem lembrou meu cabeçudinho, os botões de jambu são particularmente interessantes. Toda vez que mordemos um botãozinho, a impressão que temos é de que a flor vai se abrir dentro da boca, tal a mordacidade com que a plantinha se espalha pela língua!

3 de fevereiro de 2011

Viagem gastronômica ou viagem na maionese?

Meu cabeçudinho é especialista em números, gosta especialmente de proporções e medições de chances. Coisa de quem trabalha com SPSS, Software Para Quem Sabe Somar. (Aqueles que, como eu, precisam de maquininha no supermercado pra saber qual embalagem de cerveja vale mais a pena não devem se aventurar por esses programas, sob pena de fazer bobagem mesmo nas listagens de frequências e médias...) Pois bem, se fosse ele a redigir este despretensioso relato, provavelmente diria que cerca de 90% das pessoas reagem com estranheza quando contamos que fomos a Belém do Pará. A passeio (e aí a proporção de caras franzidas aumenta um pouco mais).

A primeira pergunta que nos faziam (e nos fazem) é se temos algum parente no Norte do país. Afinal, que outro motivo justificaria nosso deslocamento do SE a terras tão longínquas? E a destino tão pouco badalado, quando confrontado com praias maravilhosas do Nordeste, do Sul ou mesmo do Sudeste, ou ainda com as cataratas do Iguaçu, com os parques curitibanos, com as águas de Bonito, com a arquitetura histórica mineira... que raios fomos nós fazer em Belém do Pará?

Oras, que coisa fácil de resopnder.

Fomos a Belém pra fazer aquilo que fazemos todos os dias e de que muito gostamos.

Fomos a Belém pra comer!

E como comemos. Desde a chegada, a busca por comida boa foi intensa e felizmente compensadora - felizmente mesmo, porque as primeiras investidas em busca de comida foram árduas... Assim, ó: saímos cedo de casa (em SP), tivemos problemas pra devolver o carro no aeroporto, entramos na área de embarque em cima da hora, o voo atrasou, a Gol nos serviu um minipacote de amendoim (e ainda queria que consumíssemos e pagássemos muito caro por um lanche minúsculo e murcho, ao que resistimos bravamente, em especial porque não tínhamos um real na carteira, dado que não sobrara tempo para passar num caixa eletrônico), chegamos a Belém de tarde (horário de verão não tem em todo o país), baita bafo, calor úmido, coisa estranha, estômago colado nas costas... e o Ver-o-Peso, que tanto meu cabeçucinho queria conhecer, ferve mesmo logo cedo, de modo que à tarde só ficam as moscas a passear e o povo a tomar cerveja nos camelôs azulejados, nada de tacacá, nem de peixe, muito menos de camarão.

Então, depois de um banho merecido, lá fomos nós atrás do badalado Lá Em Casa, na cidade, que meu tio indicara como a melhor opção. Debaixo de chuva. Muita chuva. E ainda assim, quente. Muito quente. O clima por lá é do tipo equatorial, e se bem me lembro das aulas de geografia, isso significa umidade alta e temperatura elevada.

Pois bem. Caminhamos pelas ruas escuras e desconhecidas, debaixo de chuva, mas sem uma proteção que fosse, atrás do dito estabelecimento. E depois de ir e vir algumas vezes, descobrimos, graças ao segurança do teatro, que o Lá em Casa da cidade fechou! No dia seguinte fomos apresentados à Estação das Docas, onde agora funciona a única unidade do restaurante. Mas essa história fica pra depois. Nossa viagem teve vários capítulos em busca de comida, e se algumas pessoas a consideraram uma verdadeira viagem na maionese, para a turma de cabeçudos aqui foi uma Viagem Gastronômica autenticamente brasileira!

2 de fevereiro de 2011

Belém-Belém-Belém

Minha cabeça apronta muitas "confusões linguísticas" comigo desde criança. Às vezes acho que é problema de audição, outras tantas percebo que não, o problema não é na recepção do que chega aos ouvidos, mas na interpretação dessas informações. A bem da verdade, a origem da confusão pouco importa, importa mesmo é a diversão proporcionada para mim mesma... sim, eu me divirto com as minhas próprias confusões.

Quem tem mais ou menos a mesma idade que eu (ou mais!) deve se lembrar de uma novela global chamada Brega & Chique. Não façam as contas, mas eu tinha dez anos nessa época... Pois bem, a abertura dessa novela contava com a divertida trilha da banda Ultraje a Rigor, "Pelado". Por que estou contando tudo isso? Porque foi a partir dessa música que eu me toquei de que tinha algo errado na minha cabeça.

Foi assim: na abertura da novela, a certa altura, Roger canta "pelado, pelado, nu com a mão no bolso, nuzinho pelado, nu com a mão no bolso" e um homem aparece, obviamente nu, caminhando "com a mão no bolso". E qual o problema? Bem, sabe-se lá por quê, meus neurônios sempre se recusaram a ligar a imagem do homem pelado com a letra da música, de modo que por muito tempo eu cantei a plenos pulmões "pelado, pleado, ú com a mão no bolso, URSINHO pelado, ú com a mão no bolso".

Eu sei, é degradante confessar uma coisa dessas. "Ú com a mão no bolso"? Isso é culpa de um livro queridíssimo, que guardo até hoje, chamado "Pipoca", em que um burrinho passeia pelas páginas do livro, por onde encontra letras e números antropomórficos - ou quase isso, com olhos, boca, nariz, braços e mãos. Daí a imaginar um "Ú com a mão no bolso" foi muito fácil. Já quanto ao "ursinho pelado"... oras, e uma criança de dez anos vai lá entender das taras de mulheres mais velhas?

Confusões como essa me perseguem até hoje. Felizmente ou não, agora tenho relativa consciência das peças que os meus neurônios me pregam. E então sempre me dou um tempo para pensar melhor naquilo que vi ou ouvi antes de fazer qualquer tipo de comentário.

Foi numa ponderação dessa que descobri (aleluia!) que "Belém-belém-belém nunca mais tô de bem" não foi criado pela inimiga declarada da "Fafá de Belém", que por sua vez é de "Belém do Pará", cidade do Norte do Brasil, que "por acaso" não é o berço de um certo agitador político chamado Jesus. Esta última parte, arre, deu trabalho para eu esclarecer, e a confusão entre Pará, Cisjordânia, Fafá e Jesus durou... hum... algum tempo da minha vida, digamos assim.

E eis que chegou a hora de rever toda essa história! Em janeiro, eu e meu cabeçudinho passamos uns dias "na Belém", como gosta de falar meu pequerrucho cabeçudão. Na Belém da Fafá, ou seja, na Belém do Pará! Coletamos algumas histórias ao longo desses dias, que eu pretendo contar por aqui. E vamos lá, se sobrar energia conto ainda histórias de santos e do Santos, de viagens e viajem...